terça-feira, 31 de agosto de 2010

Semana da Arte Moderna

Mario de Andrade em visita à casa de Guilherme de Almeida
Mario de Andrade em visita à casa de Zita Aita

Menotti del Picchia
Heitor Villa Lobos, que participou da Semana como celebridade
Antes da Semana de Arte Moderna de 1922, a cultura brasileira era modorrenta e retórica, mas trazia germes de insatisfação que se irradiaram pela sociedade, da economia à política. O Brasil moderno nasceu em 1922. A Semana de Arte Moderna foi o arremate de um processo, o chamado "pré-modernismo", e o começo de outro, o modernismo, com suas conseqüências, palpáveis até hoje. Desde os anos 10, os sinais da eclosão do novo estavam no ar. Entre outros fatos, houve a primeira viagem de Oswald de Andrade à Europa, em 1912, e a constatação de que lá, ao menos na área estética, ficava o Novo Mundo. Com Oswald, veio o Manifesto Futurista, de Marinetti, lançado em 1909. Ao mesmo tempo, Oswald de Andrade alerta para a valorização das raízes nacionais, que devem ser o ponto de partida para os artistas brasileiros. Cria movimentos, como o Pau-Brasil, escreve para os jornais expondo suas idéias renovadoras. Em 1913, Lasar Segall fez, em São Paulo e em Campinas, a primeira mostra de arte moderna no Brasil. A repercussão foi nula. Anita estreou no ano seguinte, expondo quadros no estilo do expressionismo de Berlim, onde estudara. Segall também foi um tributário dessa escola. Em 1915, em O Pirralho, Oswald prega a necessidade de uma pintura brasileira. Em 1917, o ano da Revolução Russa, Anita lançou, sem querer, a questão da arte moderna no Brasil. A mostra da pintora desencadeou o processo. A exposição apresentava 53 trabalhos, muitos deles – como O Farol, O Japonês e O Homem Amarelo – executados nos Estados Unidos, onde Anita também estudara. São Paulo acolheu bem a mostra, comprou quadros, parecia entendê-los. Até que Monteiro Lobato, um dos freqüentadores da garçonnière que Oswald de Andrade mantinha na Rua Líbero Badaró, 67, publicou o artigo "A Propósito da Exposição Malfatti" (mais tarde, "Paranóia ou Mistificação?"). Apesar de provar, no ano seguinte, com os contos de Urupês, que era uma autêntica voz moderna, antecipando o movimento antropofágico, Lobato alimentava outros ideais estéticos e achava a arte moderna uma coisa de louco. “A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto lógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa (...), não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura”. Mais disse: “quando as sensações do mundo externo transformaram-se em impressões cerebrais, nós ‘sentimos’; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em ‘pane’ por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá ‘sentir’ senão um gato, e é falsa a ‘interpretação que do bichano fizer um totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes”.

Em posição totalmente contrária à de Monteiro Lobato estaria, anos mais tarde, Mário de Andrade. Suas idéias estéticas estão expostas basicamente no “Prefácio Interessantíssimo” de sua obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922. Aí, Mário de Andrade afirma que:
“Belo da arte: arbitrário convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora conscientes (Rafael das Madonas, Rodin de Balzac.Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do Braz Cubas) ora inconscientes ( a grande maioria) foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico será tanto mais artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa”. (Mário de Andrade, Poesias Completas).
Os ricos de São Paulo ouviram Lobato. Retiraram o apoio à mostra, devolveram quadros comprados, impediram que seus filhos estudassem com a pintora. A fotografia também o ouviu e continuou acadêmica, só assumindo influencias modernas a partir da década de 40. 

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