Interior do edifício Martinelli |
A Amazonia de Walter Firmo |
José Hamilton Ribeiro ferido no Vietna em foto de Kei Shimamoto |
Reprodução da capa da edição número 1 da Realidade |
Criada em abril de 1966, em plena ditadura militar, a revista Realidade abordou questões sociais que, até então, eram ignoradas por outros veículos e pela própria sociedade. O historiador de jornalismo Bernardo Kucinski diz que a revista fez “um "jornalismo com ambições estéticas, inspirados no new journalism norte-americano, numa técnica narrativa baseada na vivência direta do jornalista com a realidade que se propunha a retratar”. Paulo Patarra foi o redator-chefe, apoiado por Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Luiz Fernando Mercadante, Woile Guimarães, Alessandro Porto e os fotógrafos Roger Bester e Walter Firmo. Os repórteres José Hamilton Ribeiro, Carlos Azevedo, Eurico Andrade, Audálio Dantas, Múcio Borges da Fonseca, Roberto Freire, Roberto Pereira, entre outros, reforçaram o time. As edições ainda contaram com personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Nélson Rodrigues, Adoniran Barbosa, Carlos Lacerda, Paulo Francis e Plínio Marcos. Até Frank Sinatra cedeu uma contribuição a revista fotografando uma luta ímpar de Muhammad Ali, acompanhado do repórter, ator e político Norman Mailer. Em seus 10 anos de existência, oito prêmios Esso foram conquistados: "Brasileiros go home" (1966), "Os meninos do Recife" (1967), "A vida por um rim" (1967), "Eles estão com fome" (1968), "Do que morre o Brasil" (1968), "Marcinha tem salvação: amor" (1969), "Amazônia" (1972) e "Seu corpo pode ser um bom presente" (1973). E ainda ganharam o Prêmio Sudene, pelo especial sobre o Nordeste. Entre esses, três foram conquistados por José Hamilton Ribeiro. Em 1968, com o AI-5 veio a sentença de morte da revista. Como a Realidade "era então uma forte 'instituição política'" sofreu forte censura. Os assuntos polêmicos que costumavam abordar em cada edição foram proibidos.
A revista Realidade foi um marco para o fotojornalismo. Pela primeira vez as revistas brasileiras usaram fotos grandes, algumas ocupando duas páginas. Muitas dessas fotos chocaram os leitores, como a de uma mulher fotografada na hora do parto, edição foi apreendida dois dias depois de ir às bancas a pedido de dois juizes de Menores. Outro fator que impediu a circulação foi o conteúdo da reportagem. Nela, muitas mulheres quebraram tabus e falaram sobre infidelidade, sexo, virgindade, casamento e aborto. Os juizes julgaram o "conteúdo indigesto". Foi uma das edições mais polêmicas da revista. O caso se arrastou por 20 meses, até que a edição foi liberada. Outra inovação na área de saúde foi uma matéria publicada na edição de abril de 1966, intitulada "Os dias da criação". Um fotógrafo sueco, num trabalho que demorou sete anos, fotografou um feto de quatro meses e meio dentro do útero. Foi uma imagem realmente fascinante para a época.
Comparada com as revistas atuais, e guardada as devidas proporções históricas, nenhuma revista chocou tanto quanto Realidade. Seu objetivo era mostrar a realidade crua e, às vezes, literalmente nua, como numa reportagem sobre seios publicada na edição de junho de 1972, "Normalmente há sempre um de cada lado", que expunha muitos seios.
Mas nenhuma experiência foi tão vivenciada por um de seus jornalistas como a guerra do Vietnã, com reportagem publicada em maio de 1968, "Estive na Guerra". O repórter José Hamilton Ribeiro, cobrindo a guerra, pisou numa mina terrestre e perdeu parte da perna esquerda. Na matéria, que trouxe fotos do episódio, José Hamilton conta toda a história e do sofrimento para sua recuperação.
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